André Pinto Rebouças (1838-1898) nasceu em 13 de janeiro de 1838 em Cachoeira, Bahia. Filho de Antônio Pereira Rebouças, destacado advogado e político. André recebeu boa educação. Concluiu os estudos gerais no prestigiado Colégio Militar do Rio de Janeiro em 1857 antes de passar para o ensino superior na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. Lá, ele se formou em ciências físicas e matemáticas , graduando-se em 1859 e sendo nomeado engenheiro militar em 1860. Dois dos seus seis irmãos, Antônio Pereira Rebouças Filho e José Rebouças, também eram engenheiros
Quando estourou a guerra na região do Prata em 1864, Rebouças foi enviado para servir como engenheiro na Guerra do Paraguai.
Foi nessa campanha, na qual atuou de 1864 a 1866, que Rebouças desenvolveu um torpedo autopropulsado, um dos primeiros do gênero em todo o mundo. O torpedo autopropulsado de Rebouças parece ser um pouco anterior ao modelo mais famoso desenvolvido pelo inventor inglês Robert Whitehead.
Retornando do exército em 1866, Rebouças foi nomeado diretor da Alfândega do Rio de Janeiro. Nessa capacidade, ele ajudou a construir muitos novos portos e ferrovias no Brasil. Em 1870, sua criação de um sistema de armazenamento de água salvou vidas durante a crise hídrica da Corte. Como Diretor da Alfândega projetou e inaugurou as Docas Pedro II no Valongo durante o processo de Modernização dos Portos Brasileiros. Em 1874, Rebouças e seu irmão Antônio projetaram a primeira ponte do Brasil em concreto armado, a Ponte Irmãos Rebouças de Piracicaba.
Com a ajuda financeira do Barão de Mauá André Rebouças projetou o mais complexo empreendimento de Engenharia do Brasil na época, a Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá, construída entre 1880 e 1885 por Antônio Ferrucci e João Teixeira Soares, que possui 110 quilômetros de trilho.
Além da Engenharia André Rebouças se dedicou a projetos políticos e econômicos que visavam à modernizaão da infraestrutura do país. Em seu livro Agricultura Nacional: Propaganda Abolicionista E Democrática de 1883 defendia a Abolição da Escravidão, a educação e a reforma agrária aos ex-escravos.
A trajetória de Rebouças, como abolicionista, revela não apenas a sua contribuição intelectual no contexto do ideário da abolição, mas também a sua efetiva atuação no movimento desde os seus primórdios
Em novembro de 1880, ele já se envolvia na organização de um banquete oferecido ao Ministro dos Estados Unidos Henry Washington Hililard e, logo em seguida, tomava parte do grupo que fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.
Nessa década, ele foi particularmente ativo na imprensa, onde escreveu inúmeros artigos na Gazeta da Tarde.
Fundou em 1883 o Centro Abolicionista da Escola Politécnica onde era professor, colaboraram os professôres Alvaro de Oliveira, Paulo de Frontin, Getúlio Neves, Benjamin Costant e Enes de Souza. O Centro foi para André Rebouças uma iniciativa de higiene moral : " limpar ” da corte Imperial os últimos vestígios da Escravidão, conseguiu a libertação dos escravos do Largo São Francisco de Paula. Desde 1885 foi eleito professor Honorário do Liceu de artes e Ofício.
A educação, para André Pinto Rebouças, seria primordial para os negros na construção de uma trajetória de elevação intelectual, moral e cultural. Segundo ele, "o alfa de toda reforma é a educação", pois o ensino configurava-se num dos principais caminhos de ascensão social. Representava "a competição individualista da carreira aberta ao talento"
Segundo André Rebouças, tornava-se indispensável promover a libertação dos cativos e investir na instrução dos libertos:
"é preciso dar simultaneamente ao povo instrução e trabalho. Dar instrução aos brasileiros para que eles conheçam perfeitamente toda a extensão de seus direitos e de seus deveres: dar-lhes trabalho para que eles possam ser realmente livres e independentes! Repitamos: é necessário, é urgente, é indispensável educar esta nação para a agricultura, para o comércio, para o trabalho em uma só palavra! Deve ser esse o principal escopo de todo esse Império"
Na perspectiva reformista de Rebouças, educação e trabalho eram, portanto, temas correlatos. E a consequência imediata des-sa correspondência era a liberdade do povo. Enquanto a instrução possibilitava aos brasileiros conhecer e fazer uso de seus direitos e deveres, o trabalho lhes permitia conquistar a independência e o bem-estar
Rebouças foi defensor da educação técnica e agrícola para aqueles que exerciam atividades no meio rural, tratando criticamente a tendência a uma educação para o serviço público e burocrático. Pregava o ensino prático articulado às necessidades imediatas dos alunos.
No caso, defendia que os indivíduos provenientes do cam-po não deveriam voltar suas atenções para as ostentações da vida urbana, e sim deveriam receber uma formação técnica, preocupada em melhorar a produtividade agrícola das fazendas de seus pais. O bacharelismo, predominante entre as elites brasileiras, fazia com que, segundo Rebouças, segmentos especializados se afastassem da agricultura.
Com José do Patrocínio, ele redigiu o importane Manifesto da Confederação Abolicionista em 1883 e finalmente foi ele quem rascunhou, em 1888, as bases da Lei Áurea de 13 de maio. Sua discreta figura foi, de fato, uma presença marcante do processo abolicionista no Brasil.
Suas ideais receberam apoio e simpatia do Imperador Dom Pedro II e da Princesa Regente Dona Isabel, a quem Rebouças muito influenciou durante a Campanha Abolicionista, chegando a ajudar a família Imperial a abrigar escravos fugidos em Petrópolis
Além dos projeto base da Lei Áurea, Rebouças elaborou um extenso projeto educacional para capacitar os trabalhadores brasileiros, sobretudo quando o debate abolicionista ganhou força. Por ter sofrido diversos atos de preconceito racial em função de ser negro, Rebouças ressaltava sua preocupação com os negros libertos que com o advento da abolição precisariam receber “instrução e trabalho”.
Entendia que ensino em nível técnico e a especialização profissional eram a base para uma mudança de caráter social e econômico do Brasil. Segundo ele, democratizando a atividade rural e universalizando o ensino primário, secundário e técnico entre a população degradada, seria possível pensar um país mais moderno, industrial e forte
economicamente, capaz de deixar para trás o atraso social: "Necessitamos de instrução e capital. E como não é possível construir escolas, comprar livros e pagar mestres sem capital, é preciso resolver simultaneamente o problema do capital e o problema da instrução: “não se pode ensinar a ler quem tem fome"
Rebouças também ajudou a financiar a Sociedade Cearense Libertadora na primeira Província a Abolir a Escravidão no Brasil.
Também defendeu a Imigração em Massa de Italianos e Portugueses ao Brasil que na época tinha apenas 14 milhões de habitantes. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.
Monarquista convicto, amigo pessoal do Imperador Dom Pedro II e professor de Príncipe Dom Pedro Augusto de Saxe Coburgo e Bragança, Abandonou o cargo de lente catedrático da Escola Politécnica do Rio de Janeiro que exercia em 1889 após o Golpe Republicano, decidiu se exilar do Brasil em protesto.
Em artigo publicado no artigo "Le Brésil"! em 1889, louvou a figura de d. Pedro II:
Nós fomos criados, durante quarenta e oito anos, por um imperador sábio e bom, que aboliu a pena de morte, a tortura, as penas bárbaras e a escravidão [...]. A orientação humanitária e altruísta da nação brasileira deve-se a ele e a sua filha, célebre por sua coragem, seu heroísmo e seu devotamento (1889, p. 297). O Brasil estava, na sua concepção, trilhando o caminho certo em direção ao progresso e à formação da nação brasileira.
Por vários anos, trabalhou como correspondente do jornal londrino The Times enquanto morava em Lisboa, Portugal onde faleceu em 1898. A morte de Rebouças teve grande repercussão na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde foi Professor, que inseriu na ata um voto de profundo pezar pela "perda irreparável que acabam de sofrer o magistério superior e a Engenharia Brasileira ” Fonte: André Rebouças e seu tempo. / André Rebouças: um engenheiro do Império
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